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Bullying no Sistema Escolar

by Augusto Cuginotti

Nunca trabalhei em uma escola do tal ‘sistema escolar’, mas tenho me surpreendido com o que ouço e leio de alguns colegas sobre a relação social na escola e o bullying.

O Poder e o Bullying

Estruturas de poder são comuns em todos os sistemas humanos. Na escola, a pressão para ser ‘cool’ e estar ‘por dentro’ é um índice de poder, assim como o sucesso e a carreira são índices em nossa sociedade.

Não acho que as crianças são bullies porque são mal educadas ou malvadas por natureza. O convite a elas é frequente, não só na escola, mas talvez ajudado pela estrutura escolar. Como seres humanos, lidar com essas situações são parte do processo de crescimento da criança: auto-estima, auto-aceitação, respeito pela diferença do outro, etc. Sempre haverá uma situação de bullying. Como lidar com essas situações?

Lidando com o Bullying

Alguns professores fazem um acordo tácito com o bully da mesma forma que um senhor de engenho fazia com um capataz. O acordo serve para poder manter o controle da sala de aula, já que lutar contra o grupo de bullies pode significar um caos geral, situação pior do que ceder ao hierarquismo em sala de aula.

Nesse caso pode-se dizer que a escola, até um certo limite, dá suporte ao grupo de bullies. O grupo ajuda a manter o controle que é peça chave do atual sistema escolar. este que, se não gera o bullying, acaba por contribuir para a preservação desta prática.

Os professores que se colocam energicamente contra às ações do bully podem ficar com o trabalho extra de exercer mais controle, mais pressão e eventualmente mais repreensão. Mesmo que o professor e o diretor, representando o sistema escolar, sejam contra o bullying, na prática a diferença não é muita. O sistema funciona mais ou menos como o que tenta prevenir que se cole na prova – supervisão constante e sempre ineficiente.

A verdade é que nem o professor nem a direção da escola tem o poder de acabar com bullying – panos quentes e relações de autoridade dando lição de moral não funcionam. Muitos exportam a violência escolar para casa – como não tem o poder de punir a criança, física ou emocionalmente, exportam a violência para onde a sociedade ainda acha aceitável – para casa. Alguns pais, infelizmente, disciplinam os filhos como a escola os disciplinava há 100 anos.

E tem jeito?

E tem jeito? De acabar com o bullying não, mas de saber lidar com ele sim. Não o professor ou a direção da escola, mas os próprios alunos. Não basta o sistema escolar ser contra o bullying, é fundamental que a comunidade – principalmente os alunos – sejam contra esse tipo de atitude.

Entender o outro e a comunidade seja bem menos relevante do que conhecer sobre alguns assuntos.

Talvez o problema do sistema escolar atual seja que entender o outro e a comunidade seja bem menos relevante do que conhecer sobre alguns assuntos. A atitude em relação ao aprender consciente na escola foca em absorver ou descobrir conhecimentos e pouco a experimentar o que é relacionar-se com o outro.

Conversa entre Peers

Aqui na escola também tem bullying. A diferença é que aqui temos um espaço toda a semana para que os alunos possam trazer essa questão, discuti-la e perceber que, como ninguém quer ser alvo de bullying e nem ver um colega nessa situação, essa atitude é inaceitável. As crianças enfrentam o bully porque conseguem entender o mal que ele faz a uma pessoa e à comunidade. O bullying é lidado da única forma que poderia ser: por uma conversa entre os peers. Autores, receptores e quem presencia o bullying pode falar e ouvir os demais. Todos decidem junto a melhor ação a tomar.

Não sei como essa solução pode acontecer em uma escola que funciona como um grande sistema de ensinar e não uma comunidade de aprender. O grande sistema não pode se livrar dos bullies, alguns dizem que até se apóia neles. A verdade é difícil de encarar: a instituição do aprender como ela é tem o bullying como subproduto.