Cada um é cada um, mas com algos em comum

by Augusto Cuginotti

Tive algumas conversas muito interessantes com algumas pessoas na Holanda semana passada – em uma delas conversávamos sobre nossa relação com as outras pessoas e nossa capacidade de estar na pele delas, ser empático.

Lembro-me de Ken O’Donnell falando uma vez que tentamos ser empáticos nos colocando na posição dos outros – claro que isso pode ajudar a aumentar a perspectiva, mas ainda somos nós naquela posição, dizia ele, o que pouco garante uma conexão verdadeira com o outro. Nesse caso, como o famoso Feel Felt Found, talvez valha como uma forma de vender e persuadir, verbos não tão empáticos assim.

Mas os estudiosos foram além! Identificaram que existem dois níveis: o de se colocar no lugar do outro e o de realmente estar no lugar do outro, explorar realmente a perspectiva cultural, histórica, individual, social, etc. Parece interessante, mas no final das contas achei mais do mesmo. Para uma conexão verdadeira, não se trata de uma pessoa compreender a profundidade da perspectiva do outro.

Refleti sobre isso em Gorée Island em 2006, visitando com um grupo de americanos afro-descendentes a ilha que servia de casa de escravos para envia-los à América. Percebi que, em um certo nível, jamais poderia compreender o significado desta ilha na perspectiva de alguém que seu ascendente passou por lá. Me colocando como aprendiz, tivemos um diálogo que me presenteou com um pouco mais do mundo de cada um que estava por lá.

A conversa na Holanda continuou com a pergunta: se essa perspectiva não acontece, como realmente nos conectamos com os outros? O que levantei de possibilidade é uma conexão no que temos de comum como seres humanos, o que faz parte da nossa estrutura: sentimos raiva, medo, esperança; somos biologicamente do mesmo reino, filo, espécie; e finalmente somos iguais em nossas diferenças: estamos imersos em uma cultura, em nossa linguagem, em nossas limitações e criatividades.

Essa conexão entre seres humanos sobre o fato de sermos seres humanos é onde podemos dizer: sim, eu identifico essa emoção e sentimento em mim – não, não sei o que a você está sentindo. E, apesar deste tipo de saber racional ser um, desde quando ser empático está relacionado com ele? Essa conexão é um saber de múltiplos níveis, talvez muito mais em outros níveis para você. De qualquer forma, se for racionalizar, melhor que seja com cuidado.

Onde acessamos essa conexão em cada um de nós? No corpo, no sentimento que vem, nas idéias que aparecem… O que eu posso fazer desde minha perspectiva que oferece um legítimo passo de conexão com o outro?