Questionamentos à Democracia

by Augusto Cuginotti

Saramago

Nessa minha procura pelos meus óculos (que ditam como vejo o mundo), tenho me perguntado quais são as coisas que muitos já não questionam e tomam como verdade e até objetivo de vida.

Uma dessas coisas é, como já temos publicado aqui, a educação. Educação não se questiona: é óbvio que um menino precisa ficar, por pelo menos 10 anos, dentro de uma sala de aula sobre supervisão de um mestre por no mínimo 4 horas por dia. Inquestionável porque para todo mundo, se isso não é ótimo, é o que é e pronto. O menino precisa ser educado, né?

Outra coisa que não gera (ou gera pouca) discussão é a tal da democracia. Luta-se pela democracia pelo mundo da mesma forma que a UNESCO trabalha no seu “Educação para todos”. Democracia para todos!! Democracia para os países que vêem sentido nela e democracia para aqueles que teimam em se organizar de uma forma imperfeita.

A democracia está arraigada no que acreditamos (ou no que querem que acreditamos) tanto quanto o sultanato em Brunei ou o sistema de castas indiano. É duro reconhecer isso se você nasceu em um local onde te vendem democracia como um valor. Não é. Não começe uma revolução, mas coloque a democracia no seu devido lugar.

Deixo um link para a entrevista de José Saramago sobre seu próximo livro:

Foto Marcelo Barnain.

 

 

 

Comentários

MateusFernandes
August 24, 2004 | 12:58 PM

Podemos questionar tudo!
Mas será que vale a pena?

A democracia é uma hipótese, mas que, como exige a ciência inventada pelos homens, já obteve algumas valiosas verificações. Não é somente uma teoria ou algo improvável. É uma realidade, ainda que em pequena escala. Talvez seja somente acalentador pensar num mundo mais democrático, mas, o que são os sonhos senão cobertores para as noites de frio?

Por fim, uma idéia bacana, de um livro bacana chamado “Democracia”. De Darnton, autor do livro que não esconde os problemas da democracia, vem um conselho para aqueles que não acreditam na política. “Se você quer que a corrupção cresça, deixe então que apenas os políticos profissionais se encarreguem dela”. E democracia é bastante ligada à participação. E participação é um desejo humano…Seja na índia de castas, seja no sultanato de Brunei. Mas assim como vários dos nosso desejos, pode ser tornar tabu, o que não impede que o desejo exista…

Forte abraço, amigão!

 

Augusto C
August 25, 2004 | 10:01 AM

Grande Mateus!
Li suas palavras, concordo com o que disse sobre participação, mas não tanto sobre sua abordagem a democracia. Não acho que democracia seja uma hipótese, acho que ela está mais para uma opção.
Hipóteses são coisas que assumimos para provarmos ou refutarmos uma tese. O que escrevi é justamente que considero que a democracia não deve ser considerada uma hipótese e sim uma tese, algo que se escolheu a partir de hipóteses mais elementares. Existem valores e objetivos que o ser humano deve prezar mais do que a democracia, nos quais a democracia (e qualquer outra forma de organização) deve se basear.

O “fascínio democrático” é o que tem feito países influenciarem outros com pressões político-econômicas e até com armas (temos visto algumas invasões por aí recentemente, não?) para que se tornem democráticos.

Concordo com você que a participação é essencial, mas não acho que democracia esteja bastante ligada a participação. Primeiro porque participação pode acontecer de diversas maneiras, também seguindo suas crenças. Para alguns participar é sair as ruas em passeata, para outros é fazer seu trabalho de maneira diferente.

Depois porque acredito que no ambiente democrático muita gente não participa de nada e em ambientes considerados não-democráticos existe uma participação em massa. Na China socialista de Mao (valeu Massao!) a participação é muito maior do que nos demais países. A coisa é que todos participam na direção de Mao. Não basta apenas participar, tem que questionar. Podemos questionar tudo. E vale a pena.