Confiança nos Grupos e em Espaços de Aprendizagem
Como resposta a um artigo colocando confiança como central para o processo de sustentabilidade social, recebi como sugestão* a leitura do livro de Rafael Echeverría La empresa emergente, la confianza y los desafíos de la transformación.
A Confiança É Determinante
A confiança é determinante nas ações de pessoas dividindo um espaço intencional de aprendizagem. Confiança esta que será gerada tanto entre as pessoas de um grupo como na percepção de cada indivíduo sobre si mesmo.
Isso é verdade tanto em grupos onde um processo é mais fechado e dirigido como em um mais aberto e distribuído.
Processo Dirigido versus Distribuído
Num processo de aprendizagem altamente dirigido a confiança se deposita na aposta de competência de uma figura de autoridade como um palestrante ou professor. Neste contexto damos poder de autoridade a quem julgamos competente e até o momento em que essa competência é questionada.
Ainda existem autoridades e estrutura de poder em um processo mais distribuído, sem a figura formal de autoridade. Vale ressaltar que o uso de poder não implica comando e controle ou autoritarismo, mas poder como determinante de como declarações, afirmações e julgamentos de uma pessoa serão recebidos com confiança pelos demais. Essa confiança é construída e des-construída no processo relacional de um grupo.
Vamos Conversar Sobre os Processos de Grupo com Autoridade Distribuída
Como processo relacional, confiança raramente acontece em um curto espaço de tempo. Um grupo que distribui confiança também distribui autoridade na medida em que vê cada participante como co-autor da história do grupo.
Na visão do participante, estar no espaço de co-autoria implica reconhecer seu papel e responsabilidade em um processo de aprendizagem compartilhada.
Estes Grupos de Co-autoria são uma Raridade
Neles a criação das histórias e ações compartilhadas acontece na intersecção das vozes de várias pessoas, em um espaço sempre complexo e susceptível a fatores não explorados ou emergentes. Para chegarmos a grupos de co-autoria temos que passar por um processo em que incertezas e medos em lidar com essa complexidade são recorrentes.
Echeverría cita o sociólogo Niklas Luhmann dizendo que a confiança diminui a complexidade, reduzindo a margem de possibiliades para algo mais simples com o qual conseguimos lidar melhor. Essa complexidade e a incerteza trazida por ela é a grande geradora de ansiedade em processos de grupo.
Um Grupo Lidando com Ansiedade
Uma das formas conhecidas para lidar com a ansiedade é a determinação de um líder no qual depositamos a ‘confiança’ de nos guiar para o caminho desejado.
Essa ‘confiança’ mostra-se em realidade um subterfúgio, um atalho ao verdadeiro confiar através de uma falsa figura de poder, um autor que, ao contar a história como em um monólogo, eventualmente se tornará um eterno herói ou vilão, um líder incompetente ou uma desculpa para a desintegração do próprio grupo.
“Tudo o que você precisa nesta vida são ignorância e confiança; aí o sucesso é certo” – Mark Twain
Novamente com olhos de participante: o medo do incerto é o gerador da figura de liderança que concebemos nos dias de hoje. Confiar nos demais e em si como co-autores tem como pré-requisito a capacidade de entreter em alguns momentos o incerto como algo além de uma simples ameaça.
Essa capacidade é determinante na nossa forma de ação. As pessoas que se tornam competentes em ver incerteza como mais do que ameaça podem interpretar acontecimentos de forma a gerar novas possibilidades de ação no futuro. São pessoas mais criativas e mais adaptáveis às inevitáveis mudanças que ocorrem ao nosso redor.
* Agradeço a Pablo Villoch pela recomendação.