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Esperanças Tecnológicas: Contribuições e Cuidados em Aprendizagem

by Augusto Cuginotti

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A emoção generalizada por plataformas online de acesso à informação é compreensível. Quem poderia imaginar há algumas décadas que o acesso ao conhecimento científico pudesse estar disponível em diversos pontos de acesso espalhados pelo mundo todo?

Nossa presidenta recebeu o ícone de tais plataformas, o fundador do Khan Academy. Entre ele e outros, além das iniciativas nacionais de tradução de conteúdos para o nosso português, qualquer pessoa com acesso à rede e com interesse por um tema pode iniciar seu aprendizado no momento em que quiser e na velocidade que achar conveniente.

Tem gente que suspira de emoção e outros que arregalam os olhos com ceticismo. Essa realidade tem contribuições e também merece cuidados.

Nova Ferramenta, Novo Messias

Os cuidados são os de sempre quando o tema é aprendizagem: achar que ferramentas são o que realmente falta para a criação de espaços do aprender. O computador mesmo já foi o messias: as escolas públicas ganharam santuários com máquinas que por vezes ficavam trancadas atrás de grades.

Também assim foi a Internet em geral e hoje os vídeos no Youtube em particular. Amanhã certamente haverá algo mais, sempre uma esperança de que ao nos fazermos mais tecnologicamente avançados, aprenderemos e ensinaremos melhor.

Por outro lado, como já é sabido, tudo isso tem contribuições. Não falo da contribuição de acesso à informação e ao conhecimento, nem falo da oportunidade das pessoas serem autodidatas e poderem estudar no seu próprio tempo, já que considero que são contribuições marginais.

Espaço Aberto para o que Importa

A contribuição maior é na possibilidade de quem ensina, facilita ou cuida dos espaços de aprendizagem de terem mais tempo e energia para prestar atenção no que realmente importa.

Imagine que todo o conteúdo das nossas descobertas históricas estejam acessíveis e a base de conhecimento disponível dê conta de ensinar tão bem quanto um professor na sala de aula.

Agora imagine as pessoas se encontrando, crianças ou não, e interagindo com o que aprenderam umas com as outras. Em duas camadas, as possibilidades:

Camada Conteudista

Olhando para o entendimento de conteúdos, um professor ou facilitador pode prestar atenção no que realmente são peças-chave para a aplicação e compreensão de cada tema. Como alguém com mais experiência, pode dialogar seus conhecimentos com os outros.

A princípio os que propõe ensino por estas plataformas deixam claro que assim deve ser: usar a tecnologia para auxiliar o ‘professor’. Para isso o ensinar precisa migrar de se olhar para objetos de aprendizado específicos para prestar atenção na forma em que esses objetos se conectam entre eles, com cada um e com o mundo.

Ouvir o Khan pode ensiná-lo regra de três, mas não ensinará matemática e nem proverá o espaço de calcular quantos gramas de presunto eu consigo comprar com R$5.

Camada Relacional

Além dos conteúdos, as pessoas poderiam encontrar-se para viver em conjunto ao invés de estar entre quatro paredes ouvindo/fazendo atividades dirigidas. Viver em conjunto quer dizer tomar conta do próprio tempo, ficar entediado por não receber instruções e aprender a propor e criar brincadeiras, atividades, projetos… é ter tempo para se relacionar com o outro e com a comunidade e aprender dessa relação.

Um dos grandes convites tecnológicos é de termos mais treinamento, mais conteúdo, mais conceito e menos experiência, menos relação e menos eventos com o outro. O ampliar da tecnologia não vai automaticamente ampliar nossa consciência em relação a esta camada — as conversas são outras e precisam estar presentes.

Plataformas online de aprendizagem, enfim, são um tema que representa muitos outros, um tema que lembra da nossa esperança de resolver as questões por nossa sagacidade racional, nosso cientificismo.

Estas mudanças podem ser o que as tecnologias são para o homem moderno: uma forma de tornar-se mais ocupado e desconectado, ou uma forma de usar melhor o tempo offline para as coisas que realmente importam.