by One From RM

Intervenção a Serviço de Quê?

by Augusto Cuginotti

Acabei de voltar de duas semanas intensas estudando-me e estudando grupos na conferência Tavistock que acontece há 66 anos na Universidade de Leicester.

A conferência tem como uma das suas premissas básicas que grupos trabalham em uma tarefa consciente mas sempre tem um processo inconsciente que ocorre paralelamente. Acessar esse processo inconsciente pode estar a serviço de facilitar o desenvolvimento da tarefa ou do próprio desenvolvimento do grupo e de seus membros.

O papel do facilitador é de prestar atenção e criar hipóteses sobre a narrativa insconsciente do grupo quando ele/a julgar que isso é uma intervenção que serve o grupo em direção a seu objetivo.

Tivemos diversas sessões de trabalho e pude exercitar a formulação destas hipóteses e testá-las com os grupos com os quais trabalhei. Esse exercício pareceu ser uma mistura de atenção aos padrões de fala das pessoas juntamente com as formas de expressão, emoções e o não-verbal.

Foi interessante ver como a narrativa do grupo é influenciada quando alguns padrões são expostos como possibilidade.

Em uma das muitas conversas informais durante a hora do jantar, aprendi sobre as intervenções que não são adequadas.

O contexto era uma conversa sobre racismo onde uma carga de emoções (raivas, frustração, culpa, etc) foi bloqueada por um comentário que racionalmente fazia bastante sentido.

Lembrei dos momentos em que eu fiz o mesmo, expus um comportamento que fechou o espaço para que essas emoções pudessem ser expressadas. Me mostrei sagaz e atrapalhei o processo do grupo.

Ter espaço para expressar raiva pode ser fundamental para a saúde de um grupo. Aprendi que intervenção que racionaliza emoções que precisam ser expressadas, mesmo as verbalmente violentas, estão apenas empurrando as questões para debaixo do tapete.

A questão é: varrer para debaixo do tapete serve melhor o grupo naquele momento? Por vezes sim, mas algumas vezes apenas adia o confronto inevitável com assuntos que ficam vivos narrativa inconsciente.

Essa narrativa inconsciente parece ser a causa de grupos que parecem sempre em conflito sem motivo aparente ou simplesmente apáticos. Trata-se de uma história oculta que sequestra e paralisa o grupo.

Como saber se a intervenção faz sentido? Lembrei da sempre relevante pergunta: ela está a serviço de quê?