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Nos Separamos das Nossas Crianças

by Augusto Cuginotti

Tive muitas conversas interessantes com os queridos anfitriões de um recente encontro na Eslovênia.

Juntei-me a uma vila de aprendizado, uma semana de espaço aberto para conversarmos sobre as questões que nos interessa e para aprendermos a viver e aprender juntos.

Uma das conversas recorrentes e que bastante me marcaram foi a relação de todos nós, moradores desta vila temporária, com as mais de 20 crianças que estavam presentes – de 3 a 17 anos de idade.

Ficou clara a dificuldade de relacionamento entre adultos e crianças e mais ainda a falta de reflexão que fazemos da diferença de ter muitas gerações dividindo o mesmo espaço.

Em toda vila que se preze existe gente das mais diversas idades. Há inclusive os mais idosos e as crianças que eventualmente necessitam de cuidados e atenção extras. Nela se vive todo mundo junto, um aprendendo com a geração de antes e de depois.

Acontece que já não vivemos mais em vilas. Nos separamos das crianças e não sabemos mais como lidar com a diferença de idade e de contribuição para uma vida em comunidade. Os que tem filhos tem um pouco mais de vivência, mas mesmo assim não muita (vão cedinho para uma instituição que “cuida”), e não necessariamente com um grupo de crianças se relacionando.

Nesse espaço ficou clara a dificuldade de se relacionar e até de se falar sobre o saber relacionar-se com crianças. Queríamos conversar e os pequenos gritavam, corriam e faziam bagunça. E agora? Estamos em uma vila ou em uma conferência? Quem vai dizer para o menino que isso não pode? Cadê a mãe desse moleque pentelho?

Nos separamos das nossas crianças. Nós, herméticos, aprendemos apenas com os racionais escolarizados. As crianças aprendem com um de nós em como se tornar racionais escolarizados. Perdemos todos.