nossas maravilhas
Estufa funcionando de noite na Europa.
Assisti um vídeo de um programa que alguns norte-americanos estão fazendo na África. O programa é muito interessante: organiza estudantes do equivalente ao ensino médio a irem trabalhar na construção de painéis solares em Uganda. Os painéis são uma construção viável para um local onde uma estrutura elétrica – como vemos em grande parte das Américas – seria impossível.
O legal do programa, como mostra o vídeo, é que ele permite o uso de equipamentos médicos para atendimento da população que antes não podiam ser utilizados por falta de energia. Também mobiliza a juventude norte-americana a conhecer outras realidades além da terra de Walt Disney.
Uma das partes do vídeo me trouxe um questionamento interessante. O narrador, ao final, começou a levantar as vantagens de se ter eletricidade nos vilarejos de Uganda: falou da indiscutível ajuda para os exames médicos, mas também falou uma frase interessante – Agora os moradores podem trabalhar e estudar até mais tarde, sem mais dependerem da luz do sol para essas atividades.
Lembrei então das histórias que ouvi de povos antigos: africanos, americanos e de outros lugares, onde o ser humano diversificava a sua vida em harmonia com o que a natureza lhe proporcionava. Lá as atividades que aconteciam sob a luz do sol davam espaço a outras coisas quando o sol se punha. Tudo a seu tempo.
Aí pensei nos impactos na cultura africana que não são nem imaginados pelos homens e mulheres de bom coração que estão lá para levar eletricidade para os moradores de Uganda. O padre que lidera o grupo diz com empolgação – “It is a big deal!”. E luz elétrica é uma grande coisa. Será sempre uma boa grande coisa?
Com nossa visão pragmática de desenvolvimento, queremos suplantar o que achamos que são amarras impostas pela natureza: usamos luz elétrica para ir mais rápido, mais longe e mais tarde; usamos hormônios para sermos mais esbeltos, mais fortes, mais mais; usamos transgênicos para termos mais produção, mais independência, manusearmos mais; usamos a ciência para sermos mais senhores de nós mesmos.
Com a febre do mais, somos também cada vez mais neuróticos, mais desconectados, mais automáticos. A ilusão do bom desenvolvimento é como a ilusão da democracia ou da educação formal para todos: se funciona por aqui, então vai ter que funcionar por lá também. Vamos lá e, vendo até onde podemos ver, ajudamos os outros a terem as maravilhas que nós temos.
Talvez nos falte humildade para procurar e sabedoria para entender as maravilhas dos outros.
Comentários
Carol Paiva
April 12, 2005 | 10:28 PM
Lendo o texto (que ficou muito bom hehehe) pensei na aculturação que diversos povos sofreram e sofrem até hoje. Nós mesmos, brasileiros sentimos isso quando vemos que nossas rádios tocam mais músicas americanas do que as nacionais.
Esse processo que acaba com coisas que depois que se vão damos conta de como eram importantes e que podíamos aprender muito com elas.
Triste!
Carolzinha
April 13, 2005 | 2:59 PM
As vezes o bom nem é a luz elétrica e sim o sol…com esse mundo tão louco e altamente materialista q vivemos não temos a chance d perceber q as coisas mais simples são muitas vezes as melhores. A ânsia por tecnologia faz com deixemos d lado hábitos mt mais saudáveis…Belo texto Guto, um grande bjo! =)