Que jogo é esse?
Tem alguns anos que faço aikido. Depois posso contar de onde veio a motivação pra começar, mas certamente não está relacionada com o movimento pop que vai fazer da arte o mesmo que fizeram com o coitado do Sun Tzu – eu mesmo estou pensando em escrever: ‘Aikido nas organizações’, ‘Seja um líder aikidoca’ ou, meu preferido, ‘Jesus, o melhor sensei que já existiu’.
Enfim, comecei a praticar de novo aqui em Barcelona ontem e me veio um pensamento sobre o embate entre o mundo da fantasia e o que é real. Depois de muitos anos de aikido, pode acontecer do praticante assimilar os movimentos mais usuais e existe o risco do treino ser menos real, mais coreografado. Não sou muito popular em alguns momentos porque não coreografo (as vezes, né? Afinal, faço parte do sistema) e aprecio os que colocam intenção na prática, pra aprender e ajudar o outro a aprender.
Nos primórdios do meu trabalho comecei ouvindo que é muito fácil criticar e esquecer o olhar apreciativo sobre as pessoas e suas relações. Por um tempo com alguns colegas tive a sensação contrária: a crítica não existia (não crítica no sentido puramente negativo, aquele blabla que vc já conhece), a intenção do aprender e ajudar a aprender tinha virado uma bonita coreografia, onde todo mundo dá suporte a todo mundo, mas com a motivação no lugar errado.
Trabalhar coreografado é mais fácil, mas eu não quero jogar esse jogo. Por que, se é pra aprender, melhor 4 de verdade que 10 de mintirinha.