Redes Sociais e o Mercado de Nós Mesmos

by Augusto Cuginotti

Entrei para o Clubhouse essa semana. A estratégia é ir escalando o negócio e deixando as pessoas entrarem por convite e se você ainda não está lá, já já estará. Afinal, mercado cheio vende mais.

Entrei para ver o retrato das redes sociais de hoje. Gurus, CEOs, traders, coaches, marketers, startupers… fazendo autopromoção, contando os seus “how to” para os outros em troca de exposição de si mesmos: pedidos de me segue, promessas de soluções mágicas e as salas com nomes que mais soam a click baits.

Lá você tem duas opções — ou corre para ensinar algo que você sabe, cria a sua sala de “how to” e parte para o branding (lembre-se, com força de vontade você consegue!), ou passeia consumindo o “conteúdo” que os outros estão produzindo, pagando com sua atenção, curtidas e follows. É um mercado e, de novo, você é o produto.

A princípio, não diferente de outras redes sociais, existe um potencial de ser um espaço de conexão e de aprendizagem. Imagine que você pode encontrar um amigo de bobeira por lá e tomar um café virtual, compartilhar uma ideia ou curiosidade e ouvir o que outros têm a dizer sobre ela.

Tudo isso pode, mas não é o que tem não. Nestes muitos anos de criar espaços de aprendizagem do tipo Espaço Aberto (conheça o Open Space aqui) é bastante simples de distinguir dois grupos de participantes: os que usam o espaço para convidar outros para contar o que sabem e os que usam para convidar outros para explorar um tema que estão investigando, que tem curiosidade.

Tenho um colega que foi morar um ano na Nova Zelândia com a família, um profissional já sênior fazendo um sabático. Lá sentou em uma vila tradicional para conversar com os locais e, após contar sobre seus conhecimentos e descobertas, ouviu: “Não estamos interessados no que você sabe, queremos saber o que você ainda não sabe”.

Onde foram parar estes espaços? Certamente não nas redes sociais.

E isso não é tirar valor dos “how to” — eu sou consumidor deles na internet há muitos anos — agora mesmo estou aprendendo a manusear o clarinete e a operar derivativos com auxílio de um monte de gente que compartilha seu conhecimento. Eu compartilho o meu para aprofundar minha prática, mas também ofereço e vendo o meu trabalho.

Peraí, mas a internet toda virou um mercado, não virou? Talvez, mas eu prefiro procurar (go DuckDuckGo) pelos temas do meu interesse visitando a “loja” das pessoas/empresas do que ficar assistindo um feed de propaganda disfarçada de espaço social para conexão.

Por quê? Porque eu não quero me acostumar com a ideia de que espaço de conexão é isso que está aí, que as conversas que conseguimos ter se resumem ao bate-boca dos comentários do Facebook ou os elogios genéricos às nossas fotos do Instagram.

Somos consumidores online, mas infelizmente temos sido só consumidores online. Facebook, LinkedIn, Instagram, Clubhouse, são mercados com suas ofertas.

Abre agora e preste atenção nas empresas e nas pessoas olhando para você, não exatamente para você, mas bem para o consumidor que te habita. Se seguimos consumindo, que seja com essa consciência.

E se julgar que tem mais nesses espaços do que você vendendo ou consumindo, que tal pensar em algo contra-cultura? O que seria participar das redes sem ser consumidor ou promotor? É possível?

Se alguém fizer um “how to” disso já tem aqui um consumidor.