A Escola Fabricando Fracasso
Já tive a oportunidade de explorar a percepção — que acho errônea — de que ter sucesso na vida é consequência de ter aprendido bem na escola.
Vender sucesso escolar como plataforma para a vida é enquadrar aprendizagem em conteudismos curriculares e restringir aprender exclusivamente ao meritocrático, mensurável e economista.
São diversos os exemplos de que aprender bem o que a escola oferece não tem correlação com sentir-se bem sucedido na vida. Na lista de fracassos escolares constam gênios da física, artistas revolucionários e empresários milionários. E estes são somente os sucessos que a sociedade reconhece e comenta, mas há muitos outros sucessos pessoais que não entram para a história.
Como trabalhei em uma escola onde as crianças não eram obrigadas a assistir às aulas, me perguntam sempre sobre aquelas que decidem não pisar em sala de aula (mesmo eu tendo bem mais histórias das que eventualmente decidem participar e se envolvem no que decidiram explorar).
Vamos imaginar uma criança hipotética que não aprendeu a ler e tem 14 anos. Fracasso por todos os parâmetros ordinários e oficiais.
Saber ler e o básico de matemática é indicador de sucesso e, obviamente, habilidades que em muitos contextos da nossa sociedade é gerador de autonomia.
Na escola, conversaríamos com ela sobre a vantagem de se saber ler nos dias de hoje, nas belezas que se pode encontrar na leitura e convidá-la para explorar a prática no seu ritmo. Nada mais do que conhecer a criança e dialogar.
— E se a criança decide fracassar? Vocês fazem o quê?
Nenhuma pessoa saudável decide fracassar. A determinação de fracasso escolar é uma etiqueta que geramos e oferecemos à criança, resultado exatamente da nossa percepção de sucesso e fracasso na vida e sua correlação com sucesso na escola.
E imaginando mais: imagine se a criança realmente decide que vai ser um fracasso na escola. E decide mais: ser um fracasso na vida.
Será que forçá-la a assistir aulas e aumentar sua performance na escola vai mudar a sua decisão? Ou reforçá-la?